Paulo Henrique Amorim

A força dos 140 caracteres

O Twitter é a nova “onda” dos navegantes da internet. Todo mundo está twittando. O Paulo Henrique Amorim passou o jogo do Brasil mandando mensagens sobre o jogo e o Galvão Bueno. Kaká foi flagrado twittando em pleno estádio, durante o mesmo jogo. Uma febre.

Dessa epidemia que se tornou o microblog, como é pejorativamente chamado o Twitter, surgiu um eficiente e revolucionário meio de comunicação. As mensagens, postadas nos blogs e sites, passaram a ser divulgadas através do Twitter. E o mais incrível, aconteceu. A Rede Globo de televisão foi afrontada pelos usuários do Pássaro Azul.

A campanha “Cala boca Galvão” não é apenas uma crítica ao mais importante locutor esportivo da emissora. Ela é mais ampla. Quando o técnico Dunga xingou o Alex Escobar na coletiva à imprensa, após o jogo contra a Costa do Marfim, os twitters foram à loucura. Dunga nunca foi tão apoiado pelo povo brasileiro quanto naquele momento. Milhões de mensagens de apoio ao treinador da Seleção surgiram no microblog e dessa vez o Cala a Boca teve outro alvo: Tadeu Schimdt. Mas agora com uma repercussão apenas nacional. O Tadeu ficou em 1º lugar no ranking do Twitter brasileiro, o TT BR (Trendings Topics – Brazil), sem direito a pedir música.

Concorrente bate recorde

Depois de mandar o Galvão e o Tadeu calarem a boca, os twitters foram além. Lançaram a campanha Dia Sem Globo onde os usuários deveriam assistir ao jogo entre Brasil e Portugal, dia 25 de junho de 2010, no canal concorrente: a Band. Mas ai, o sucesso e o fracasso andaram lado a lado.

O DiaSemGlobo fracassou. Fernanda Paes Leme entrou no TTs BR e chegou ao topo da lista. A bela atriz roubou a cena e o seu parentesco com o Galvão Bueno foi muito comentado. Além, é claro, da sua total ignorância futebolística nos comentários. Porém com um sorriso daqueles, quem precisa entender de futebol? A Globo conseguiu três pontos a mais de audiência em relação ao jogo anterior. Ou seja, os números e os comentários sobre a bela atriz, demonstraram o fracasso da campanha. Será mesmo?

A Band, única concorrente da TV aberta a transmitir os jogos da Copa, também teve um crescimento e bateu o recorde de audiência nessa Copa. A emissora do Luciano do Vale teve 13 pontos de audiência e em termos de share (porcentagem de televisores sintonizados dividido pelo número total de TVs ligadas) obteve o único número favorável. No primeiro jogo do Brasil, a Globo obteve 75% da audiência contra 17% da Band. No DiaSemGlobo a Vênus Platinada caiu para 67% contra 20% de TVs que ouviram a narração do Luciano do Vale.

Surgirá o VidaSemGlobo?

Longe de mostrarem uma queda vertiginosa da empresa que justifique o sucesso da campanha, os números ajudam apenas a chegar a uma conclusão. Surge uma nova forma de se expressar.

Nunca antes na história desse país, diria o presidente Lula, houve uma manifestação tão grande contra uma emissora. A Globo ainda lidera com folga. Mas agora a programação da emissora e suas atitudes passaram a ser questionadas de forma mais contundente e ampla. Bastou o Carlos Alberto de Nóbrega não tirar o chapéu para as novelas globais, no programa Raul Gil do SBT, e o seu nome surgiu no topo dos TTs BR com mensagens de apoio ao comediante da Praça.

Porém, existe o outro lado da moeda. A Rede Globo está sendo amplamente questionada e criticada. Com isso seu conteúdo não sai dos TTs BR e o Galvão apareceu até no New York Times, graças ao Twitter. É o efeito colateral de uma repercussão. O famoso: “Falem mal, mas falem.”

Por isso, o DiaSemGlobo teve uma importância muito mais conceitual que numérica. Os internautas estão se mobilizando, demonstrando seus pontos de vista e aprendendo a fazer campanhas contra a mais importante emissora do país. A opinião pública não está sendo construída, como antes, nas reuniões de pauta da Central Globo de Jornalismo. O William Bonner não pode mais chamar seu público de Homer Simpson sem uma resposta imediata. E a resposta não vem a cavalo, mas sim, nas asas de um passarinho azul com 140 caracteres e na alta velocidade da banda larga.

Não é o Ibope que irá dar o veredictum sobre o DiaSemGlobo. Só o tempo dirá. Quem sabe surgirá em breve o #VidaSemGlobo? Afinal, como diria o mestre Bob Marley, “Se vocês são a grande árvore, nós somos o pequeno machado. Amolados para derrubá-la. Preparados para derrubá-la.”

Erick da Silva Cerqueira
No Observatóro da Imprensa: http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=596FDS002